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Representantes de Itaú, WEG, Tupy, Nomos e Ambar Energia avaliaram as propostas, reforçando o diálogo entre a pesquisa acadêmica e as demandas reais do mercado de energia.

Baterias de sódio, sensores de biogás, redes inteligentes de recarga e painéis solares ultrafinos de perovskita foram destaque no evento realizado em 31 de outubro na Faculdade de Engenharia Química da Unicamp, em Campinas (SP), que apresentou as inovações desenvolvidas por startups vinculadas ao Centro de Inovação em Novas Energias (CINE). O encontro buscou estimular o empreendedorismo científico e aproximar a pesquisa acadêmica do mercado, reunindo projetos que tratam de diferentes etapas da transição energética. 

O encontro foi conduzido pelo professor Hudson Zanin, líder do programa Armazenamento Avançado de Energia II do CINE —apoiado pelo CEPETRO (Centro de Estudos de Energia e Petróleo). Antes dos pitches, os participantes passaram por um treinamento voltado a compreender conceitos de mercado, identificar “dores” reais da indústria e aprimorar suas habilidades de apresentação, com foco em impacto e escalabilidade.

O resultado pôde ser percebido nas apresentações, marcadas por propostas mais maduras e alinhadas às demandas reais do setor. A banca avaliadora reuniu executivos de grandes empresas, como Itaú Unibanco, WEG, Tupy, Nomos e Ambar Energia, convidados para avaliar o potencial das ideias e abrir caminhos para parcerias entre academia e mercado.

Materiais brasileiros para baterias de sódio

A Cath Energy, por exemplo, que desenvolve materiais ativos de cátodo para baterias de sódio, defendeu a tecnologia como uma alternativa promissora às baterias de lítio, hoje dominadas pela China. O diferencial está em uma rota produtiva baseada em minérios nacionais de manganês, ferro e sódio, com uso de materiais reciclados e sem geração de salmoura residual.

Além de reduzir em até 95% as emissões de CO₂ na fabricação, a tecnologia oferece vantagem econômica significativa, já que o sódio é muito mais abundante e barato que o lítio, e pode ser obtido com insumos locais, eliminando a dependência de importações e reduzindo custos logísticos e cambiais.

A startup já opera em nível de maturidade tecnológica TRL-4 e, até 2027, planeja instalar um piloto de 10 kg/hora, capaz de produzir material suficiente para 155 MWh/ano, e iniciar a industrialização em 2028. O modelo de negócio prevê parcerias com mineradoras e recicladoras, com foco inicial na exportação para Estados Unidos e Europa, onde cresce a demanda por cadeias produtivas mais sustentáveis e menos dependentes da China.

Armazenamento estacionário acessível e reciclável

Já a Future Flow apresentou uma proposta para democratizar o armazenamento de energia no campo, apostando em baterias de fluxo à base de chumbo desenvolvidas para uso estacionário em propriedades rurais, especialmente nas regiões Norte e Nordeste, onde as oscilações de energia são frequentes.

Diferentemente das baterias de lítio, o sistema usa um único canal de fluxo, eliminando o uso de membranas separadoras — um componente caro das baterias convencionais. Com isso, a tecnologia reduz custos, é mais segura e escalável, e aproveita uma cadeia de reciclagem de chumbo já consolidada no Brasil. A empresa, em TRL-4, estima um investimento de R$ 1,5 milhão até 2028 para chegar ao TRL-7 e iniciar a implantação em fazendas no início da próxima década.

Monitoramento em tempo real da qualidade do biogás

A BF Sense, por sua vez, mostrou um sensor portátil e uma plataforma digital capazes de medir a composição e a pureza do biogás diretamente nas unidades de produção. O dispositivo oferece uma alternativa de baixo custo e alta escalabilidade em comparação aos cromatógrafos convencionais, que são caros e restritos a laboratórios.

Com essa solução, o monitoramento deixa de ser uma etapa onerosa e passa a ser parte do próprio processo produtivo. A tecnologia, integrada à internet das coisas (IoT), permite que empresas e produtores acompanhem em tempo real a eficiência da geração de biogás e otimizem o aproveitamento energético dos resíduos.

A startup busca R$ 500 mil em investimento para concluir a fase de validação em campo e aprimorar o software de análise, o que permitirá monitoramento remoto multigás e relatórios personalizados.

Rede inteligente de recarga para veículos elétricos

Já a Recarregue propôs uma rede inteligente de recarga rápida e armazenamento distribuído, capaz de operar mesmo em locais sem infraestrutura elétrica consolidada. O sistema combina baterias estacionárias, geração renovável e comunicação em rede (smart grid), além de oferecer uma experiência simplificada de uso — recarga via tag, sem necessidade de aplicativo.

A primeira fase do projeto, submetida a edital da FINEP, prevê investimento de R$ 14 milhões para instalar 20 eletropostos entre São Luís e Salvador, conectados por um corredor energético autônomo. O plano de expansão prevê alcançar 400 estações e 80 MWh de armazenamento distribuído até 2035, com faturamento projetado de R$ 100 milhões por ano.

Energia da luz ambiente para eliminar baterias descartáveis

Encerrando as apresentações, a Soluz destacou o desenvolvimento de painéis solares ultrafinos de perovskita, um material semicondutor de nova geração capaz de gerar eletricidade a partir da luz ambiente, inclusive de lâmpadas internas.

Essa tecnologia permite alimentar etiquetas eletrônicas, sensores e pequenos displays em supermercados, escritórios e galpões, eliminando o uso de pilhas e baterias descartáveis e reduzindo o lixo eletrônico.

O diferencial econômico está em substituir o uso de milhões de baterias de curta duração — que exigem reposição constante e encarecem a operação de grandes redes varejistas — por dispositivos autossuficientes, que funcionam continuamente com a luz do ambiente. Isso reduz custos de manutenção, melhora a eficiência logística e abre espaço para novos modelos de automação mais limpos e sustentáveis.

As perovskitas oferecem três vezes mais eficiência que o silício sob luz artificial e podem ser produzidas e recicladas no Brasil, com 70% de reaproveitamento dos materiais. A Soluz prevê uma planta-piloto em 2026 e entrada no mercado em 2028, mirando inicialmente o setor de automação comercial e varejo, que já adota etiquetas digitais no lugar das de papel.

A nova geração empreendedora do CINE

Para o professor Hudson Zanin, as startups representam o amadurecimento da cultura de inovação dentro da universidade e o esforço do centro em aproximar ciência e setor produtivo.

“O que a gente quer é abrir os olhos dos pesquisadores para o mercado. Muitas vezes, a tecnologia que eles desenvolvem resolve um problema que não existe fora do laboratório. O primeiro passo é entender a dor real da indústria — onde estão as oportunidades, quanto custa produzir, qual é o tamanho desse mercado. A partir daí, o conhecimento científico pode se transformar em inovação e gerar impacto econômico e social”, explica Zanin.

Segundo ele, esse é um dos papéis do CINE: apoiar a transição do conhecimento científico para a inovação tecnológica. “Essas startups mostram que a inovação também nasce da pesquisa de base. São ideias que surgiram dentro dos laboratórios da Unicamp e do CINE, mas que agora se movem na direção do mercado, com propostas sólidas e potencial real de impacto”, complementa.

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Contato das startups participantes

  • Cath Energy – Bruno Bitarães – bitaraes@unicamp.br
  • Future Flow – Leonardo Corsi – (19) 98303-2015
  • BF Sense – Roger Gonçalves – bfsense_office@g.mail.com
  • Recarregue– João Kanieski – kanieski@unicamp.com
  • Soluz – Emre Yassitepe – emreyassitepe@gmail.com

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Sobre o CINEO Centro de Inovação em Novas Energias (CINE) é um Centro de Pesquisa em Engenharia financiado pela FAPESP e pela Shell, com apoio do CEPETRO/Unicamp. Atua no desenvolvimento de tecnologias para a transição energética, com foco em geração solar e eólica, armazenamento avançado de energia, hidrogênio verde e design computacional de materiais. Mais informações: www.cine.org.br

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