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No dia 11 de novembro, a EPIC Conference, evento organizado pelo Centro de Inovação em Produção de Energia (EPIC) da Unicamp, em Campinas (SP), contou com uma mesa-redonda que abordou o tema “Benefits of Integrated Practices to Increase O&G Production Efficiency and Decarbonize the Sector”. O painel, mediado por Marcelo Souza de Castro, diretor do Centro de Estudos de Energia e Petróleo (CEPETRO), reuniu importantes nomes da indústria e da academia para discutir como práticas integradas poderiam aumentar a eficiência na produção de óleo e gás, ao mesmo tempo em que reduziriam as emissões de carbono. Entre os participantes estavam Mariana Rodrigues França (ANP), Michael J. King (Texas A&M), Francisco Alhanati (Alhanati Consulting), Jorge Biazussi (Baker Hughes) e Jorge Matias (Equinor).

Abrindo a sessão, Marcelo Souza de Castro ressaltou a evolução do EPIC em direção a uma abordagem mais colaborativa e integrada de pesquisa, alinhada aos objetivos de descarbonização e eficiência energética usando a digitalização como ferramenta. “Ao transitar para a Fase 2 do nosso programa, iniciamos uma nova linha de pesquisa com o propósito de integrar as descobertas das outras áreas do centro,” explicou Castro. Essa linha de pesquisa está centrada em consolidar resultados e aplicar uma análise integrada à produção de petróleo. “Nosso objetivo é unir transformação digital, eficiência operacional e redução de emissões de CO₂,” acrescentou.

Inovação Regulatória e Fomento à Sustentabilidade Energética

A superintendente adjunta de Meio Ambiente e Tecnologia da Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (ANP), Mariana Rodrigues França, discutiu a importância do financiamento público-privado em P&D para o desenvolvimento de tecnologias de descarbonização no setor de energia. Ela enfatizou que o Brasil possui um dos maiores aportes para P&D na área de energia, principalmente pela exigência de investimento de 1% da receita bruta em P&D por empresas de exploração de petróleo e gás. “Nos últimos dois anos, esses investimentos chegaram a aproximadamente R$ 8 bilhões,” destacou. França também apresentou a Resolução 918 de 2023, que organiza os recursos para P&D em três frentes: investimentos direcionados, o Programa de Recursos Humanos (RH-ANP), com foco em capacitação profissional, e o programa NAVE, que fomenta a inovação aberta.

Entre as inovações regulatórias mais recentes, ela destacou o desenvolvimento de um painel dinâmico para monitorar as emissões de gases de efeito estufa, assim como a adoção do programa OGMP 2.0, que tem como objetivo a mitigação de emissões de metano. Mariana ressaltou que a ANP está desenvolvendo políticas em parceria com o Conselho Nacional de Política Energética e colaborando com agências internacionais para monitoramento e relato de emissões. “Nosso compromisso é criar um ecossistema de inovação colaborativo, unindo empresas, universidades e governo para um setor energético mais sustentável,” concluiu.

Integração e desafios de modelagem

O professor Michael J. King, da Texas A&M, e membro do International Advisory Board do EPIC, abordou a necessidade de uma visão integrada entre geologia, geofísica e engenharia para desenvolver projetos em ambientes complexos. Ele discutiu casos nos quais a falta de integração entre disciplinas compromete a eficiência do processo. “Nos fluxos de trabalho tradicionais, geocientistas e engenheiros constroem redes de simulação de forma independente, levando a inconsistências,” explicou King. Ele mencionou o campo de Crono Bay como exemplo de projeto bem-sucedido devido ao uso de redes de simulação integradas, que permitem a modelagem precisa de barreiras de fluxo e canais em projetos de captura e armazenamento de carbono (CCS).

King também apresentou uma abordagem de “dupla rede”, onde mantém-se tanto a rede de simulação (para engenheiros) quanto a rede geológica (para geocientistas), otimizando a precisão do modelo. “Essa estrutura permite avaliações em tempo real, o que facilita ajustes e evita problemas de compatibilidade entre as disciplinas,” detalhou King. Ele acrescentou que essa integração se torna essencial em CCS, onde a precisão é vital para evitar vazamentos de CO₂, fortalecendo a segurança e a eficácia do projeto.

Engajamento e disseminação de conhecimento em P&D

Francisco Alhanati, da Alhanati Consulting, também membro do International Advisory Board do EPIC, compartilhou experiências práticas sobre a integração de P&D nos processos de trabalho das operadoras e destacou a importância do engajamento contínuo entre as equipes de pesquisa e operação. “Publicar um relatório extenso não garante que o conhecimento será aplicado,” pontuou Alhanati. Ele defendeu que os resultados de P&D devem ser traduzidos em cursos de treinamento e materiais acessíveis, preferencialmente com treinamentos in loco. Em sua experiência, um dos principais desafios em projetos de óleo pesado offshore é a erosão de água nas camadas de óleo, onde as técnicas de completamento inteligente têm sido fundamentais para otimizar a recuperação.

Alhanati também ressaltou a importância de uma abordagem holística, que abarque todas as etapas do ciclo de vida de um reservatório. “A visão integrada de longo prazo é essencial para otimizar o valor econômico e a sustentabilidade das operações,” concluiu.

Digitalização e automação na redução de emissões

O engenheiro Jorge Biazussi, da Baker Hughes, abordou as estratégias de automação e integração de dados que a empresa vem implementando para otimizar a produção e reduzir as emissões de carbono. Ele explicou que a Baker Hughes tem metas claras para reduzir emissões de CO₂ em 50% até 2030 e alcançar a neutralidade de carbono até 2050. “Para alcançar essas metas, desenvolvemos um fluxo de trabalho automatizado que integra sensores de pressão e temperatura com modelos de simulação, criando um gêmeo digital da operação,” explicou Biazussi. Essa estrutura permite previsões precisas e tomadas de decisão mais rápidas, evitando interrupções e otimizando o uso de recursos.

Além disso, ele mencionou que o sistema permite a antecipação de falhas em equipamentos críticos, como bombas submersas elétricas (ESP), com uma abordagem preditiva. “Nosso sistema digital integrado melhora a eficiência e a segurança, além de reduzir a pegada de carbono ao longo da cadeia de produção,” destacou.

Sustentabilidade e inovação tecnológica na Equinor

Representando a Equinor, Jorge Matias compartilhou os avanços da empresa em projetos de exploração e produção no Brasil, destacando os campos de Bacalhau e Peregrino. Matias enfatizou o uso de tecnologias de modelagem 3D e simulações de fluxo para otimizar a recuperação de petróleo, garantindo a continuidade estrutural dos reservatórios e a intensidade de carbono controlada. Ele explicou que, além de reduzir as emissões, a Equinor implementa métricas específicas de eficiência energética e de intensidade de carbono para medir o impacto ambiental e ajustar as operações conforme necessário.

Matias também abordou o compromisso da Equinor em desenvolver um ecossistema de inovação colaborativo, unindo software de simulação, modelagem e monitoramento em tempo real, facilitando a integração de práticas sustentáveis e de baixo carbono em toda a operação.

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