No painel da Energy Week, TotalEnergies, BYD e Canal Solar afirmam que país tem condições de liderar o setor, mas expansão depende de qualificação, inovação e infraestrutura para mobilidade elétrica.
A energia solar deixou de ser coadjuvante e hoje já ocupa espaço estratégico na matriz elétrica brasileira. Mas, para seguir crescendo, o país precisa correr atrás de um problema que ficou evidente na Energy Week, evento que se realiza 3 a 5 deste mês, na Unicamp: faltam profissionais qualificados para acompanhar a velocidade da transição energética.
O alerta foi feito no painel “Potencial da Energia Solar no Brasil”, que reuniu Ricardo Viana (TotalEnergies), Rodrigo Garcia (BYD Brasil) e Bruno Kikumoto (Canal Solar), com moderação de Tárcio Barros, do Centro de Pesquisa em Mobilidade Elétrica (CEMOBE), ligado ao CEPETRO.
“Gente preparada é o grande gargalo”
Para o CEO do Canal Solar, Bruno Kikumoto, o ritmo de expansão do setor criou um desafio estrutural: faltam profissionais capazes de instalar, operar e manter sistemas cada vez mais complexos.
Ele lembrou que, há dez anos, a energia solar “mal aparecia nos gráficos”, mas hoje já é a segunda maior fonte da matriz. O salto, afirma, veio acompanhado de uma pressão inédita sobre toda a cadeia: “Mercados que crescem rápido pedem gente preparada — e esse é o gargalo de qualquer setor.”
Kikumoto também destacou que a descentralização da geração, com milhões de sistemas instalados em residências e empresas, torna a qualificação ainda mais urgente. “Não dá para errar rápido em infraestrutura. Cada erro custa caro”, afirmou.
Tecnologia e pesquisa puxam competitividade
No lado da inovação, Ricardo Viana, da TotalEnergies, apresentou projetos de P&D que buscam aumentar desempenho e confiabilidade das usinas solares no Brasil. Entre eles, sistemas de monitoramento inteligente para prever falhas e otimizar a operação, estudos de eventos de irradiância para melhorar o dimensionamento das plantas e um projeto de agrivoltaicos desenvolvido com a USP, que combina produção agrícola e geração de energia no mesmo terreno.
Segundo Viana, o país tem condições de ampliar sua participação global em renováveis, desde que siga investindo em pesquisa aplicada e integração entre academia e indústria.
Mobilidade elétrica muda o jogo
O avanço da eletrificação veicular foi o foco de Rodrigo Garcia, gerente de P&D da BYD. Ele explicou que a rápida adoção de carros elétricos — impulsionada pela nova fábrica de Camaçari e pela expansão de modelos no país — está transferindo o consumo energético dos combustíveis para a rede elétrica, aumentando a importância do solar como fonte complementar.
“A energia que antes movia motores a combustão agora vem da eletricidade. O solar será essencial para sustentar esse crescimento.”
Garcia destacou que a BYD já trabalha com carregamento ultrarrápido, capaz de abastecer um veículo em cinco minutos, tecnologia que exige uma infraestrutura mais robusta e, ao mesmo tempo, abre espaço para microgrids e sistemas combinando solar, baterias e recarga distribuída.
Ajustes para a expansão solar
A interação com a plateia levou o debate para um ponto decisivo: como o sistema elétrico brasileiro vai acomodar a rápida expansão da energia solar. Nas respostas, os painelistas destacaram que, além de gerar mais, será preciso lidar com desafios práticos — do risco crescente de cortes de geração (curtailment) ao avanço necessário de sistemas de armazenamento e da gestão inteligente do consumo, especialmente na recarga de veículos elétricos. Também houve consenso sobre o papel da regulação e da confiança social nessa transição. Como ressaltou o prof. Tárcio Barros, “não basta ter a tecnologia — é preciso garantir qualidade, regulamentar bem e preparar a sociedade para adotar essas soluções”.




















